“EPIDEMIA ALÉRGICA”

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VIDA SEM GERMES PODE EXPLICAR A CHAMADA “EPIDEMIA ALÉRGICA”

Hoje em dia, o sanduíche de manteiga de amendoim e geleia, no passado a opção mais comum para um almoço simples, é proibido na maioria das escolas americanas devido às reações graves e ocasionalmente fatais de alguns alunos a nozes e castanhas.

A “epidemia alérgica” das últimas décadas deixou duas a três vezes mais pessoas com doenças alérgicas e asma.

Cerca de uma em cada 13 crianças tem uma alergia alimentar, e o número de crianças com alergia a amendoim triplicou entre 1997 e 2007. É uma epidemia para a qual não há explicação clara, mostrou o “New York Times”.

Cientistas acreditam que expor crianças a germes desde que elas são muito pequenas faz bem a elas.

Um estudo sueco recomenda que os pais lambam as chupetas dos filhos para limpá-las, relatou o “NYT”. De acordo com os pesquisadores, os bebês cujos pais faziam isso desenvolveram menos alergias do que aqueles cujas chupetas eram lavadas ou fervidas.

Joel Berg, presidente da Academia Americana de Odontologia Pediátrica, disse que as descobertas reforçam o que ele vem dizendo a seus pacientes há anos: “A saliva é sua amiga”. Ela contém enzimas, proteínas, eletrólitos e outras substâncias benéficas, algumas das quais talvez possam ser transmitidas de pais para filhos.

Outra maneira de reduzir o risco de alergias seria criar seu filho num paiol ou estábulo. Sem eletricidade, esgoto ou água corrente.

É assim que os Amish, que rejeitam muitas das conveniências da vida moderna, vivem e criam seus filhos na Pensilvânia, em Ohio e Indiana.

O alergista Mark Holbreich, de Indiana, descobriu que apenas 7,2% das 138 crianças Amish que ele testou apresentavam sensibilidade ao pólen de árvores e outros alérgenos, contra cerca de metade de todas as crianças americanas.

O agricultor Amish Andrew Mast disse a Holbreich que o trabalho na fazenda foi uma constante em sua infância. “Minha primeira recordação é de tirar leite da vaca aos cinco anos”, contou.

Sua mulher, Laura, trabalhou no estábulo quando estava grávida, e as duas filhinhas do casal foram levadas ao estábulo a partir dos três meses de idade.

Noventa e dois por cento das crianças Amish que Holbreich examinou vivem em fazendas ou as frequentam, e o médico acredita que seja esse o segredo dos Amish, segundo o “NYT”.

Cientistas europeus estudam o chamado “efeito fazenda” desde o final dos anos 1990. A teoria é que micróbios do estábulo, da matéria vegetal e do leite cru estimulam o sistema imunológico das crianças, protegendo-as contra alergias.

Mas, como a maioria de nós passa 90% de nosso tempo em espaços fechados, entre paredes, ecologistas como o microbiologista Noah Fierer, da Universidade de Colorado Boulder, começaram a estudar esses espaços, relatou o “NYT”. Os cientistas querem saber como “colonizamos” nossas casas com vírus, bactérias e micróbios.

Cães e outros animais de estimação afetam as formas de vida microscópicas que vivem sobre nossos travesseiros e telas de computador. Peter Andrey Smith escreveu no “NYT” que, com o tempo, cientistas “esperam propor estratégias para controlar casas cientificamente, eliminando táxons nocivos e fomentando as espécies benéficas à nossa saúde”.

Um estudo realizado na Finlândia em 2012 constatou que a diversidade vegetal fora das casas está relacionada a uma variedade maior de bactérias presentes sobre a pele humana dentro das casas. Adolescentes expostos a essa biodiversidade maior apresentam risco menor de sofrer alergias.

“No momento, não entendemos como as construções funcionam como ecossistemas”, disse Jordan Peccia, engenheiro ambiental na Universidade Yale que estuda o vínculo entre diversidade fúngica maior em espaços fechados e índices mais baixos de asma.

“Achamos que aumentar o isolamento das casas seria benéfico, mas talvez isso seja um equívoco do ponto de vista da diversidade ecológica.”

 

por TOM BRADY
DO ‘NEW YORK TIMES’

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